sexta-feira, 11 de julho de 2014

Crônica: Chocolate


Dizem que só o seu perfume já faz a boca transpirar, inebria o pensamento e faz o coração disparar por causa da ansiedade para provar do sabor e sentir a textura do que vai se desmanchar na boca.

Os amantes do chocolate dizem que ele é capaz de proporcionar um prazer tão intenso que chegam a compara-lo ao gozo no sexo. Os exagerados, que a felicidade cabe dentro de uma caixa cheia dos mais saborosos chocolates. Os poetas, que o chocolate tem alma. Os comilões, que é impossível não cometer o pecado da gula e, os que o consideram um maná, que deve ser tratado com respeito e ser degustado ao invés de devorado.

Chocolate que nos faz bem, chocolate que nos faz mal. O que é afinal? Prazer ou tortura?

Quanta generosidade e quanta maldade cabem num chocolate. 

Assim como na ambiguidade do amor, pode nos levar da euforia a consternação.

O maior chocolate da história das semifinais das copas do mundo foi extremamente amargo. E, se é que se pode mesmo compara-lo com sexo, o que vimos foi uma rapidinha de seis minutos. “Foi bom pra você?”.

Não se trata de radicalismo (é tudo ou nada), de delírios em cima de expectativas extremadas, de se achar superior...

Estou falando da humilhação estampada nas manchetes dos jornais mundo a fora, de uma seleção que, representando a nação e jogando em casa, se mostrou sem nenhum resquício sequer de bravura e se deixou trucidar em campo diante de milhões e sobre milhões. E o que já é ruim pode ser ainda pior. 

Essa derrota vexamosa da seleção brasileira trouxe a boca um amargor que foi muito além dos 7X1 no alto do placar de mais um dos estádios “padrão FIFA” ao término da partida, isso porque, ela fez sobressair o gosto dos outros tantos chocolates amargos que nós, povo brasileiro, tomamos todos os dias quando temos violado os nossos direitos de cidadão e a nossa dignidade por uma total falta de compromisso daqueles que deveriam, nas suas posições, realmente vestir a camisa, amar e defender a nossa pátria.

Então, não podemos nos eximir da nossa responsabilidade. Cabe a nós exercermos a nossa cidadania com hombridade nas urnas e sermos um povo unido não só na hora de torcer e gritar gol, para, quem sabe assim, esse “padrão FIFA” seja defendido por nossos representantes com toda essa veemência para resolver as questões de saúde, educação, emprego, moradia, segurança, transporte, acessibilidade, lazer... dignidade. 

Enjoada de chocolate!

Médica e autora do livro: Perfume de Hotel
contato@carlasgpacheco.com

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