sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Crônica: Entre Ernest Hemingway e Eu



Há um ponto no mapa onde tudo parece fazer sentido, onde qualquer dúvida que tenha nos perseguido até aquele ponto ficou perdida num lugar qualquer.

Meu iPad descarregou, então, assim como Hemingway num café agradável na Paris dos anos 20, peguei meu bloco de notas, uma caneta, e comecei a escrever.

Sentei-me embaixo de um pé de amendoeira que, pretensiosamente, chamei de meu e que fora plantado bem de frente para o mar, ao lado da piscina. E como um dia na vida de Hemingway, a vida também me pareceu simples naquela manhã quando acordei sem pressa, fui para o chuveiro e tomei um belo banho, pude ter meu café da manhã na varanda ao ar livre, e então fui me sentar debaixo dessa amendoeira. Meus cinco sentidos estavam em alerta, havia muito para se ver, ouvir, tocar, saborear e, podia sentir o perfume por toda parte.

Um ultra-leve com suas asas em tom laranja vibrante, que contrastavam perfeitamente com o azul celeste do céu, passou por sobre nós e desviou meu olhar por um tempo que não saberia precisar. 

O mar, na cor verde claro para combinar com toda exuberância da natureza que existia no lugar, era de águas calmas e mornas e, de repente, no som ouvi tocar Lulu Santos: “nem sempre é so easy se viver...”. Nem sempre é, mas esse era um daqueles dias perfeitos. O que mais poderia querer?

Como Hemingway numa certa época em Paris, eu também precisava ser curada e tinha ido ao lugar certo. O sol estava sorrindo para mim e eu só precisava sorrir de volta, esvaziar a mente, me despir totalmente, aproveitar a minha chance, cansar o corpo e me deixar esvair de tanto prazer ao fazer sexo com amor. 

Provei de tudo que queria, eu me permiti conhecer novos sabores, me dei por inteiro e não pela metade, aliás, não há metade que satisfaça, assim como não há uma meia verdade sem que se diga uma mentira. 

A vida não economiza e eu nunca quis me economizar para ela. 

Hemingway uma vez compreendeu que estava com fome num sentido mais amplo e eu também estava com uma fome voraz, que ia muito além de querer apenas saciar meu estômago. Eu queria saciar o meu coração com tudo que verdadeiramente importa, das boas recordações, até fazê-lo transbordar e mandar embora tudo que um dia tivesse me feito chorar, tudo que pudesse me impedir de sorrir. 

Quando Hemingway decidiu abandonar tudo que o fazia mal ele sentiu-se aliviado e de bem consigo mesmo. Isso era tudo que eu queria experimentar, tudo que realmente precisava! Nada de disfarces, apenas a mais genuína felicidade. Então, nesse meu dia perfeito, eu busquei chegar àquele ponto do mapa.



Médica e autora do livro: Perfume de Hotel
contato@carlasgpacheco.com

2 comentários:

  1. Já disse que adoro a Carla escrevendo?? Adoro de verdade! É leve e lírico... lindo!
    E nossa, você tocou fundo na minha ferida tocando no nome de Hemingway. Amo o cara de coração!
    Mais uma vez texto perfeito, lindona!

    bjus
    terradecarol.blogspot.com

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    Respostas
    1. Uaaauu!! E o que dizer a você Carol Teles?!!...
      Obrigada por esse recado, obrigada por também me tocar.
      Escrever é mesmo uma troca.
      Bjão

      Excluir

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