sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Crônica: Expectativas


Talvez esteja aqui a origem dos nossos dramas: Expectativas.

Estamos sempre projetando nas pessoas as nossas expectativas, olhando para elas como se olhássemos para nós mesmos e esperando delas um reflexo nosso, querendo ver nelas as reações que teríamos, esperando delas atitudes que, na verdade, falam mais de nós do que delas mesmas, querendo ouvir delas palavras que, talvez, sejam nossas.

Sempre torci o nariz para essa história de baixar as expectativas e, apesar de andar repensando isso ultimamente, confesso, é muito difícil.

Acho que nós mulheres sofremos mais com isso. A escritora Fernanda Mello disse uma vez que "expectativas borram maquiagens e comprimem estômagos". Somos mais emoção que razão, não tem para onde correr e, nessas horas a essência feminina fala mais alto.

Algumas vezes seria mesmo mais fácil se não tivéssemos que reconhecer no outro atitudes tão distintas das nossas, mas não somos nós, são eles. E aí? O que fazer? Como reagir?

Mas também é preciso admitir que, o fato de nos colocarmos como referência para como os outros devem pensar, falar e agir gera frustrações e mágoas que, nem sempre, correspondem a realidade dos fatos, apenas não fomos correspondidos em nossas expectativas. 

Então, onde estará o ponto de equilíbrio? Como não entrar em conflito, se não com os outros, comigo mesma?

Não sei, e não acho que seja mesmo simples responder. Para ser de verdade tem que ser sem qualquer subtração, para ser leve tem que ser livre de disfarces, eis a questão. Como não esperar quando continuamos esperando? 

Em nossas expectativas fantasiamos o nosso "eu" no outro. Olhando assim parece mesmo injusto com o outro, seria mesmo pedir demais, mas na convivência do dia a dia não vemos por esse prisma e continuamos querendo ser atendidos em nossas expectativas.

As falhas dos outros são sempre mais terríveis que as nossas, mais visíveis, muito mais fáceis de serem apontadas, é assim que somos.

Criamos tantas expectativas que acaba sendo muito mais fácil sermos desapontados do que sermos surpreendidos e, no entanto, o elemento surpresa é o grande ingrediente - "que marravilha!".

Por isso volto a confabular comigo mesma e me questiono se realmente não seria bem mais simples diminuir as minhas expectativas para que então eu possa ser pega de surpresa ou, simplesmente, possa aceitar sem "mas". 

Numa coisa é fácil concordar: ser pega de surpresa e de jeito é uma daquelas coisas que nos lembram do quanto é bom viver, amar, ser amado, se permitir e permitir ao outro ser quem é.

Nem sempre, nem nunca... nem tantas, nem tão poucas expectativas...



Médica e autora do livro: Perfume de Hotel
contato@carlasgpacheco.com

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